Papel de seda, papel de água, papel de mesa
O papel da obra para a permanência
No auge de seus 24 anos de existência, a Terpsí Teatro de Dança dirigida por Carlota Albuquerque é, para aqueles que não conhecem, uma companhia de Dança Contemporânea, criada em 1987 pela união de alguns artistas gaúchos. Sua trajetória tem sido dedicada, em essência, à pesquisa de uma linguagem ú
nica, que resgata as experiências humanas e rompe a barreira que separa os intérpretes da obra, pois eles são a obra. E é nesta vertente que se identifica com a Dança teatral.
Atualmente contemplada com o primeiro Programa Municipal de Fomento ao Trabalho Continuado em Artes Cênicas para a Cidade de Porto Alegre 2010, o Projeto “Terpsí em Obras” abre suas portas para toda a comunidade artística da região com uma Performance de Lançamento no Teatro do Museu do Trabalho, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre.
O evento que ocorreu no dia 30 de abril de 2011 reuniu não só a Terpsí Teatro de Dança, como também alguns convidados especiais como o músico Vagner Cunha que contou com a participação de Leo Brancht e Rodrigo Panassolo, Elektrola Visual, a Exposição Arquivo Temporário organizada por Anderson de Souza e a colaboração do REDEMOINHO RS – Movimento de Grupos de Investigação Cênica.
A ideia de obra, como algo em construção, movimentou não apenas a criação desta performance, como à anos vem também movimentando inúmeros artistas e coletivos, que buscam através de um trabalho continuado, garantir sua existência e permanência. Como em um pequeno trecho do texto que a performance trouxe, “… libertamos loucuras em 24 horas que duram 24 anos. Movimentamos um grupo que movimenta espaços de compartilhamento, de continuidade, de resistência, de permanência, que dura 24 anos.”
O pequeno papel de seda que deu movimento e leveza à performance, contrapondo-se por vezes as imagens do pesado serviço braçal de quem trabalha em uma obra, trouxe muito mais que uma simples reflexão sobre as similaridades entre uma obra em construção e o papel desenvolvido por artistas da região metropolitana de Porto Alegre. Aqueles que desenvolvem um trabalho continuado em artes cênicas sabem
das dificuldades para se manter viva a arte da cidade, e sabem também da importância que tem o incentivo de recursos públicos fornecidos pelos órgãos municipais, estaduais e federais. Lembrando a luta enfrentada durante anos, ao final da performance o REDEMOINHO RS pede a palavra e defende a ideia de que a criação deste edital foi apenas um pequeno passo e de que é preciso continuar lutando para que se tenha cada vez mais recursos. E é nessa luta que, como diz em outro trecho da performance,
“movimentamos os nossos para acomodar outros corpos, outras ideias, novos desejos…” .
Francine Pressi