quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Terpsí



Foto: Claudio Etges

O corpo que acredita, continua e também silencia
Wagner Ferraz

A Terpsí Teatro de Dança esteve com sua Instalação Coreográfica Intitulada "Ditos e Malditos" na 16 edição do Porto Alegre em Cena. A proposta busca referências nos ditos populares e nas obras de artistas considerados transgressores – os malditos. Esta Instalação foi criada para servir de laboratório, experimento e exercício na busca de se poder olhar para o que estava sendo desenvolvido e a partir disso iniciar o processo de criação de um novo espetáculo.
Para quem teve a oportunidade de assistir várias vezes este processo coreográfico no ano de 2008, pode perceber que a cada apresentação esse processo apresentado sofria modificações. E nesses momentos se percebia o quanto existe pesquisa, tentativas e experimentações nos trabalhos da Terpsí. Pois como a obra estava em processo, e ainda está, seria impossível se acomodar nas estruturas e imagens já criadas. Nesta Cia de Dança a cultura construída, e que vive em constante construção, estabelece um fluxo onde não se percebe uma dinâmica de trabalho, mas sim o transito por diferentes dinâmicas. Automaticamente, as obras e processos desenvolvidos pela coreógrafa Carlota Albuquerque, pelos intérpretes e por toda a equipe estão sempre sofrendo modificações que podem ser identificadas como buscas por uma coerência entre as idéias, e o que é possível realizar de acordo com "tudo" que está disponível ou acessível.
Falar da dança da Cia Tersí é falar de movimento, mas não apenas de um mover de estruturas ósseas e musculares, mas um mover claro de intenções e ideias que aparecem na cena. É claro que o mover de estruturas ósseas e musculares também pode ser compreendido como um mover de ideias, pois corpo e mente devem ser compreendidos como únicos, se opondo ao legado
dualista cartesiano onde corpo e mente são estruturas separadas.
Os corpos, falando-se de corpo enquanto indivíduo, que apresentam e compõe as obras da Terpsí
estão em constante alteração, mas não como as alterações realizadas por adeptos do body modification e outros movimentos culturais que buscam alterações, e assim como o corpo modificado por uma cultura especifica, pela cultura descrita anteriormente que faz parte do sistema que rege a Terpsí.

Foto: Claudio Etges

E isto pode ser percebido por quem assistiu "Ditos e Malditos" a Instalação no ano de 2008 e também assistiu em setembro de 2009. Muitas mudanças aconteceram, mudanças que podem ser percebidas nos corpos e automaticamente na cena.
A Instalação Coreográfica vista em 2008 mantém a mesma idéia em 2009, porém se percebe mudanças que esclarecem o movimento, o trânsito, o percurso traçado pela Terpsí.
"Ditos e Malditos - a Instalação" leva a pensar no corpo dito, descrito, apresentado, o corpo indicado e colocado em cena, um corpo que fala por si só quando constrói esta cena. Mas ao mesmo tempo fala de um corpo "maldito" que transita entre limites e oposições, onde muitas vezes se arrisca para ter o prazer que provocar o outro, vai até o seu considerado limite para realizar seu desejo influenciando, provocando ou interagindo como o outro.
É um corpo que, como organiza Carlota Albuquerque, busca referências em BECKETT quando diz "MAIS UMA VEZ" e em ALLAN POE quando diz "NUNCA MAIS". Um corpo de limites extremos, que enquanto de um ponto de visto um acredita e se propor o exercício ritualístico da repetição, o outro firma a descrença e desistência pensando e declarando "nunca mais".


Foto: Claudio Etges



Ficha técnica:
Direção: Carlota Albuquerque / Criação e direção
coreográfica: Carlota Albuquerque / Elenco: Ângela
Spiazzi, Gabriela Peixoto, Raul Voges, Débora Wegner,
Edson Ferraz, Cesar Campos e Gelson Farias /
Participação especial: Simonne Rorato / Cenotécnico:
Paulinho Pereira / Figurino: Coletivo Terpsí / Iluminação:
Guto Grecca / Trilha sonora: colagem de cirandas,
musicais de cinema, Coco e Rosie / Produção: C3 e
Ana Essarts / Crédito fotos: Cláudio Etges / Duração:
50min

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