Foto: Anderson de Souza
Essa dita euforia se deu ao fato de em alguns momentos do espetáculo os intérpretes dançarem sem roupas. Pois isso mexeu de diferentes formas com diferentes pessoas levando a questionar: O que esse corpo disse na forma em que foi apresentado?
Levando em consideração que o corpo em movimento dentro deste contexto e dentro desta cena repetia frases de movimentos que não exploravam diferentes dinâmicas, porém, apresentavam muita força e muita disponibilidade para o que estavam executando. Os intérpretes entravam em cena hora vestidos, hora nus... Saiam e entravam como quem diz: já falei o que tinha para dizer, ou fiz o que havia de fazer, agora me retiro. Ou... Entravam e se colocavam em cena como quem diz: Cheguei, olhem para mim, estou sem roupa agora vou mostrar o que posso fazer.
Era possível se perguntar o tempo todo... Será que o corpo apresentado sem roupa tem a intenção de mostrar o que a roupa esconde? Tem a intenção de mostrar os músculos, a bunda, o pênis ou a vagina, os pêlos, o suor, ou pretendia construir uma cena? Mas que cena estava sendo construída? Poderia essa cena ser construída com os corpos vestidos ou a roupa atrapalharia?
Havia uma grande diferença entre os mesmo movimentos executados pelos mesmos intérpretes vestidos e executados pelos mesmos sem roupas. Seria essa a propostas, apresentar um sujeito vestido, e quando esse sujeito se despe, mesmo que execute os mesmos movimentos pode ser identificado praticamente como outro, como diferente? Será que sem roupa os intérpretes acabam parecendo outras pessoas? Mas seria esta a proposta?
De acordo com o release do espetáculo disponível no material impresso do 16ª edição do Porto Alegre em Cena este espetáculo “foi bastante elogiado por seus raros movimentos, baseados nos mecanismos mais simples do corpo humano, sem qualquer teatralidade, mas nem por isso mais fáceis de executar. O coreógrafo optou por corpos musculosos onde cada movimento pode ser percebido.” Talvez isso explique bem a obra apresentada, pois foi possível ver corpos músculos, que repetiam várias vezes os mesmo movimentos como se estivessem firmando o que estava sendo dito. Mas o que será que estava sendo dito? Talvez não seja algo tão declarado, pois o corpo por si só já estava declarando muita coisa. Ou será que estava declarando um corpo biológico esculpido por uma cultura?
O que fala o corpo “nu”?
Wagner Ferraz
Wagner Ferraz
O espetáculo “Crépuscule dês Océans” dirigido e coreografado pelo canadense Daniel Léveillé, que esteve na programação da 16ª edição do Porto Alegre em Cena durante os dias 12 e 13 de setembro no Teatro Renascença, deixou parte do público eufórico e outros um pouco insatisfeitos. É claro, isso está sendo dito com base em comentários ouvidos no final do espetáculo.
Essa dita euforia se deu ao fato de em alguns momentos do espetáculo os intérpretes dançarem sem roupas. Pois isso mexeu de diferentes formas com diferentes pessoas levando a questionar: O que esse corpo disse na forma em que foi apresentado?
Levando em consideração que o corpo em movimento dentro deste contexto e dentro desta cena repetia frases de movimentos que não exploravam diferentes dinâmicas, porém, apresentavam muita força e muita disponibilidade para o que estavam executando. Os intérpretes entravam em cena hora vestidos, hora nus... Saiam e entravam como quem diz: já falei o que tinha para dizer, ou fiz o que havia de fazer, agora me retiro. Ou... Entravam e se colocavam em cena como quem diz: Cheguei, olhem para mim, estou sem roupa agora vou mostrar o que posso fazer.
Era possível se perguntar o tempo todo... Será que o corpo apresentado sem roupa tem a intenção de mostrar o que a roupa esconde? Tem a intenção de mostrar os músculos, a bunda, o pênis ou a vagina, os pêlos, o suor, ou pretendia construir uma cena? Mas que cena estava sendo construída? Poderia essa cena ser construída com os corpos vestidos ou a roupa atrapalharia?
Havia uma grande diferença entre os mesmo movimentos executados pelos mesmos intérpretes vestidos e executados pelos mesmos sem roupas. Seria essa a propostas, apresentar um sujeito vestido, e quando esse sujeito se despe, mesmo que execute os mesmos movimentos pode ser identificado praticamente como outro, como diferente? Será que sem roupa os intérpretes acabam parecendo outras pessoas? Mas seria esta a proposta?
De acordo com o release do espetáculo disponível no material impresso do 16ª edição do Porto Alegre em Cena este espetáculo “foi bastante elogiado por seus raros movimentos, baseados nos mecanismos mais simples do corpo humano, sem qualquer teatralidade, mas nem por isso mais fáceis de executar. O coreógrafo optou por corpos musculosos onde cada movimento pode ser percebido.” Talvez isso explique bem a obra apresentada, pois foi possível ver corpos músculos, que repetiam várias vezes os mesmo movimentos como se estivessem firmando o que estava sendo dito. Mas o que será que estava sendo dito? Talvez não seja algo tão declarado, pois o corpo por si só já estava declarando muita coisa. Ou será que estava declarando um corpo biológico esculpido por uma cultura?
Foto: Anderson de Souza
O corpo é o lugar da cultura, vestido ou nu. Mas de que cultura estava-se falando neste espetáculo. A cultura do corpo biológico, mas que apresenta resultados de costumes e valores legitimados pelo dito universo da dança, ou de práticas em dança que se preocupam extremamente com uma fisicalidade?
Mas além de perguntar o que o corpo nu disse, deixo a dúvida da questão que foi levantada anteriormente. Por quais motivos será que alguns se diziam insatisfeitos com a obra apresentada? Teria algo a ver com o que o corpo apresentado nu disse, ou será que foi com o que não foi dito?
Ficha Técnica:
Direção e coreografia: Daniel Léveillé / Direção técnica: Armando Rubio Gomez / Elenco: Frédéric Boivin, Mathieu Campeau, Justin Gionet, Esther Gaudette, Caroline Gravel, Emanuel Proulx, Gaëtan Viau / Produção: Daniel Léveillé Danse / Iluminação: Jean Jauvin/ Trilha Sonora: Laurent Maslé / Diretor de ensaio: Sophie Corriveau / Figurinos: Carré Vert / Crédito fotos: Denis Farley / Duração: 1h
Publicado na edição 07 da Revista Digital Informe C3.
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